Era dia dos achados e perdidos. Uma fila enorme de pessoas se amontoaram diante do balcão, para recuperar suas coisas. E naquele dia fiquei responsável pela entrega dos objetos para as pessoas que ali estavam, e também sabia que meu trabalho seria difícil, pois a fila era enorme e a pilha de objetos era proporcional a ela. Foram horas e horas ali, procurando, entregando, não achando. Pessoas das mais diversas culturas e nacionalidade, procuravam por coisas inúteis e completamente dispensáveis, ás vezes me passava na cabeça, o que levaria uma pessoa enfrentar essa fila pra recuperar uma merda dessa ? Eram poucos as coisas que valia a pena devolver, 80% das tralhas entregues eram “Baús do Ridículo", nada mais do que óbvio, pois era o que estava na moda.
Acabei mais cedo que imaginava, então resolvi sentar atrás do balcão onde tinha uma cadeirinha e descansar um pouco. Comecei a olhar pra lista de coisas devolvidas, e percebi que tinha sobrado alguns itens, que poucos deram falta, mais não consegui achar por estarem escondidas entre as outras porcarias. Peguei aquele enorme caixote, nomeado “Baú do Bom Gosto”, fiquei espantado extremamente espantado, pois não imaginava que ainda existia exemplares dele. Um fato engraçado estava trancado, mas a chave estava ao lado com um bilhete: “Trancado por ser valioso, mas quem gosta do Baú do Ridículo, nem se atreve a abrir”.
Concordando com a afirmação procurei se ainda havia alguém no local que tinha dado falta por um baú daqueles, encontrei uma pessoa sentada e perguntei se ela tinha dado falta. Explicou-me que não, pois já tinha um baú, e apontou pra aquela caixa no chão, meio blasé, onde a plaquinha que estava escrito “Baú do Ridículo” foi forçadamente trocada por “Baú do Bom gosto", mas qualquer um com inteligência saberia que se tratava de uma mentira.Depois de rir da cara do infeliz, que estava vestindo com uma camisa estranha, um corte de cabelo estranho, e uma calça laranja berrante estranha, voltei pro meu querido balcão e resolvi abrir o Baú.
Quanta melancolia, quando vi, ali dentro do “Baú do Bom Gosto ", músicas com conteúdo nas letras e grupos de grande sucesso, época em que ter fama era muito mais do que cantar sertanejo, ou aproveitar o sucesso do pai pra fazer carreia ou mesmo por só ter uma carinha bonita, filmes de comédia que ainda guardava a essência do divertir sem apelar pra sexualidade, livros que não era apenas uma história de amor num universo fictício para adolescentes. Também vi o bom gosto nas roupas, que sabiam a enorme diferença de ser extravagante com classe e do mal gosto, também encontrei o bom exemplo que muitos artistas passavam.
Fechando-o resolvi guardar um daqueles exemplares pra mim. Pois atualmente, como dito antes, são extremamente raros de achar. Liguei para os números de telefone, que algumas pessoas deixaram caso eu achasse aqueles exemplares. Enquanto isso fiquei pensando e tentando consolar a tristeza que chegou quando tirei a conclusão de que a maioria tem trocado o " Baú do Bom Gosto " pelo " Baú do Ridículo" que é completamente ao contrário e que não passa de uma cópia, por tanto sem originalidade e qualidade que apenas o original tinha.
Quando por fim achei um consolo: As pessoas que entraram pra buscar o Baú. A tristeza se transformou em felicidade quando vi que ainda existiam, poucas, mas que existiam pessoas que davam o merecido e verdadeiro valor ao " Baú do Bom Gosto".
E por último notei que as pessoas eram completamente ao contrário daquelas que levaram os "Baús do Ridículo", essas eram muito mais apresentáveis, cultas e sem nenhum traço de infantilidade.
Um abraço do Sr. Racional.
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